O Instrutor de Pilates pratica o Método Pilates?

Por Valeria Mauriz

Espaço Pilates - Rio de Janeiro - Foto: Reinaldo Smoleanschi

Gostaria de começar esse post contando um fato que ocorreu no último Congresso de Pilates que participei agora em agosto/2017: um professor internacional convidado palestrou no final do congresso relatando que chamou sua atenção a questão dele ter encontrado no Brasil uma plateia de profissionais muito interessada em aprender o método Pilates mas com pouca prática no seu próprio corpo e finalizou com um pedido para que TODOS praticassem o método TODOS os dias, nem que fosse alguns exercícios básicos do MAT, por apenas 10 minutos : “-Isso vai transformar suas vidas”.

Para esse professor pode ter sido uma surpresa ele não encontrar o método no corpo dos profissionais que atuam com o método Pilates aqui no Brasil, mas essa é uma questão que cada vez mais está comum e vem o questionamento: Por quê?

Isso seria por conta dos cursos rápidos que colocam cada vez mais profissionais no mercado sem ter prática suficiente?

O instrutor do método começa atuar e fica sem tempo hábil de treinar?

Muitos possuem seu próprio estúdio e ficam sobrecarregados com a demanda de atender seus clientes/alunos e ainda administrar seu negócio, por isso a prática fica em segundo plano na sua vida?

O instrutor compreende que é preciso entender a teoria, os princípios do método e que a sua prática não é tão importante?

Para o cliente/aluno não é importante que seu instrutor de Pilates pratique ou esteja fora de forma?

O mercado só se interessa pelo diploma e não pela capacitação física do profissional?

O Sr. Joseph Pilates foi um homem visionário e inicia seu livro com a seguinte frase: “Physical fitness is the first requisite of happiness” – A aptidão física é o primeiro requisito da felicidade.

E qual o significado da palavra APTDÃO?
– Capacidade;
– Qualidade de apto;
– Disposição, inclinação.

Podemos dizer, então, que o método Pilates é um método que traz para seu praticante um incremento das suas capacidades físicas, de maneira que ele possa realizar o que se propõe, seja correr, nadar, dançar, saltar, lutar ou suas atividades de vida diária de forma mais eficiente. Para ele alcançar essa eficiência ele precisa de uma meta, uma avaliação dos seus pontos fortes e fracos, uma constância e uma progressão. Isso tudo tem a ver com APRENDIZADO MOTOR, TREINAMENTO E PROGRESSÃO.

Vamos falar mais sobre esses três conceitos e como eles são importantes no método Pilates.

Aprendizagem motora
“É um conjunto de processos associados com a prática ou a experiência, conduzindo a mudanças relativamente permanentes na capacidade para executar performance habilidosa” (SCHMIDT, 1992, p.153). Na definição de aprendizagem motora, esse autor enfatiza os seguintes aspectos:
a) a aprendizagem resulta da prática ou da experiência;
b) a aprendizagem não é diretamente observável;
c) as mudanças na aprendizagem são observadas nas mudanças na performance;
d) a aprendizagem envolve um conjunto de processos no sistema nervoso central;
e) a aprendizagem produz uma capacidade adquirida para a performance;
f) as mudanças na aprendizagem são relativamente permanentes.

Nós somos seres que aprendemos o movimento, ou seja, ele não é inato. Nascemos como uma tabula rasa para o movimento tendo somente reflexos e aprendemos ao longo da vida. Hoje a neurociência afirma que na nossa mente a parte relacionada à memória está intimamente relacionada com o aprendizado de novos movimentos, portanto a aprendizagem motora é uma mudança interna no indivíduo, observada pelo resultado da prática, que é a performance.

Somente com a prática, em outras palavras, com a experiência, podemos adquirir aprendizado motor. Voltando para o ambiente de Pilates: se o instrutor possui pouca prática no seu desenvolvimento ele terá pouca capacidade adquirida para a performance e ai nós encontramos uma situação que está se tornando muito comum: os cursos de formação estão cada vez mais acelerados, com pouco tempo para o indivíduo tomar contato com a prática dos exercícios.

Sabemos que a aprendizagem motora necessita de um tempo para processar uma habilidade, então, com pouco tempo disponível, o instrutor sai do curso de formação e entra no mercado de trabalho sem a experiência necessária para produzir um aprendizado motor eficiente. Juntamos isso com a questão que muitas vezes esse instrutor mostra o exercício a ser executado para seu aluno que aprende através de “copiar” o exercício e que está relacionado com a maneira que nós, primatas, aprendemos o movimento: através de neurônios-espelho, ou seja, através da imitação do que nos foi demonstrado. Aprendemos pela visão, processamos no cérebro e reproduzimos o que foi aprendido. Como se dará esse aprendizado?

Treinamento

Quando falamos sobre treinamento, o que nos vem à mente é o treinamento desportivo. Isso ocorre porque no passado, o conceito de treinamento era exclusivo dos esportes, porém atualmente o treinamento se disseminou além da elite esportiva para várias outras áreas e se tornou uma parte normal de um estilo de vida ativo de muitas pessoas.

O conceito de treinamento, tradicionalmente aplicado aos esportes, foi estendido para a saúde, academias, à terceira idade, à reabilitação, etc. Vamos falar sobre o treinamento de força, um dos aspectos do método Pilates.

A força motora é entendida como a capacidade que um músculo ou um grupo muscular tem de produzir tensão e se opor a uma resistência externa num determinado tempo ou velocidade.

Atualmente o desenvolvimento do conhecimento científico relacionado ao treinamento de força tem se voltado ao estudo das diferentes formas de organização de programas de treinamento (periodização), do esclarecimento dos mecanismos responsáveis pelo aumento da área de secção transversa da musculatura esquelética (hipertrofia), dos efeitos dos diferentes tipos de contração, e da utilização do treinamento de força na melhoria da qualidade de vida da população de idosos.

O simples fato de executar exercícios de treinamento de força não garante ganhos ótimos de força e hipertrofia. A efetividade de qualquer programa de treinamento está na aplicação correta de princípios científicos na sua organização. A organização dos programas necessita de um bom controle de variáveis como: intensidade, volume, intervalo de recuperação e frequência de treinamento. Sabemos que sem uma frequência não obteremos um resultado significativo e falamos isso para nossos alunos: para eles alcançarem seus objetivos ou metas com a prática do método Pilates eles precisam frequentar o estúdio pelo menos duas vezes por semana e ter uma sequência voltada especificamente para aquele indivíduo. E o instrutor? Qual a frequência dele no seu treinamento para obter os benefícios do método Pilates?

Progressão

Depois de passarmos por um período de adaptação onde conquistamos certos elementos como aprendizagem, familiarização, protocolo de treino (volume, intensidade) e duração (quantidade de semanas), passamos a uma nova fase que é progressão ou evolução da nossa capacidade motora. O Sr. Joseph Pilates pensou sobre isso e por isso determinou séries básicas, intermediárias e avançadas em todos os equipamentos criados por ele e também no Mat.

Para essa progressão ser fidedigna precisamos acompanhar e avaliar se o aluno conquistou esses requisitos, mas, infelizmente, vivemos um momento onde o “consumismo” e a “rapidez” são palavras de ordem. Queremos tudo para ontem, sem dar tempo para o processo. Vivemos num momento tecnológico e esquecemos que nosso corpo é fisiológico, passa por fases e precisa vivenciar plenamente cada uma delas. Como um bebê que primeiramente começa a engatinhar e é estimulado a ir pegar algo que está fora do seu alcance para aprender a se locomover. Depois começa a ficar em pé com assistência (como a assistência da mola) e para somente depois dar seus primeiros passos. Ele irá cair porque o erro faz parte do aprendizado humano, mas vai ficando cada vez mais confiante e logo estará correndo pela casa.

Assim também á a progressão no método Pilates: vamos do mais simples até o aluno evoluir para algo mais complexo sem pular fases, respeitando os limites e o processo do nosso aluno/cliente. Porém isso não ocorre com o instrutor: ele vai para o curso de formação “completa” e muitas vezes não vivência os exercícios e já está aprendendo algo mais avançado sem tempo para o seu processo. Ou então o instrutor acredita que deve ter sempre uma novidade para seu cliente/aluno e começa a copiar exercícios que aprendeu pelas mídias sociais e repassá-los sem um conceito de progressão. Isso dificulta a vida do instrutor, que segue “consumindo” novidades sem realmente passar pelos requisitos que citei acima e vai pulando etapas, acreditando que está evoluindo, mas não está adquirindo um aprendizado motor eficiente e vai se frustrando quando chega num curso e não consegue executar um exercício mais desafiante.

Acredito que é muito importante chamarmos atenção para a necessidade da prática do instrutor porque isso irá gerar profissionais mais qualificados para o mercado e, portanto, tornar o Método Pilates cada vez mais eficiente e respeitado no Brasil.


Valéria Mauriz é bailarina e fisioterapeuta. Tem a certificação em Pilates pela POLESTAR EDUCATION. Estudou nas mais conhecidas linhas de Pilates como: CORE CONNECTION, ROMANA KRYZANOWSKA PILATES, CLASSIC PILATES, MICHAEL MILLER PILATES, entre outras. Tem desenvolvido sua pesquisa em Pilates na Saúde da Mulher, sendo que já escreveu sobre Assoalho Pélvico no Climatério e lançou em 2013 o livro “Pilates na Gestação – Redescobrindo seu Corpo no pré e no pós parto. É Doula formada pelo curso “Ecologia do Parto ” de Heloisa Lessa e do renomado obstetra francês Michel Odent, que introduziu o parto na água nos hospitais franceses na década de 60 e que escreveu vários livros sobre a influência do parto na vida humana.

Atende gestantes e acompanha partos junto com a obstetra Maria Fernanda Couto do Rio de Janeiro.
Formada em Ginástica Hipopressiva, atua junto a mulheres na Recuperação do Pós Parto
Ministra o curso de Pilates na Gestação e no Pós Parto em várias cidades do Brasil como RJ, SP. Goiânia entre outras.

Pré treinadora em GYROTONIC®

É também Master trainer do método GYROKINESIS® podendo ministrar curso desta metodologia em qualquer lugar do mundo.

Publicado originalmente em https://www.maisquepilates.com.br/o-instrutor-de-pilates/

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